quinta-feira, 26 de julho de 2012

Agosto

Já é quase agosto
e tudo já sabe seu tempo.
Tempo de se medir
a grandeza das coisas ínfimas.
O chilreio do pardal nas copas quase sombra,
o crepitar do capim já quase seco.
É mês de agosto e todo pau seco já sabe,
todos os viventes. A pedra, a gia, o calango,
todos já sentem o hálito frio do mês de agosto.
Os mourões, o gado, a lagoa pensativa espera.
Os pequenos arbustos tecem folhas amarelas,
enquanto formigas doidas se cumprimentam.
É em agosto que as coisas empoemam
e em minha casaca um velho menino desperta
para cheirar o dia e comer as estradas antigas.
A profundidade me alcança como orvalho,
me embrenho em sua densa névoa
de lanpejos, perfumes e texturas memoriais.
O mês de agosto me consome e me renova.
Tenho esperanças inacabadas.
Touceiras de palha, casa de barro.
Um besouro atleta sai de seu olho telúrico.
Deve ser dia de casamento de raposa,
Chuva rala e sol nubente namoram no horizonte.
Queria que nunca mais acabasse,
Que o mundo terminasse em agosto.


terça-feira, 24 de julho de 2012

Rei do Brejo

Buriti taludo foi pro Brejo,
sentou praça,
fincou as unhas na lama,
Buriti ficou manso.
Teceu folhagens de um verde duro,
botou cachos.
Buriti fez-se figurão.
Em seu manto de raízes,
abrigou trairinhas, carás,
e a joaninha de boca de suvela.
Buriti aprecia os beliscões do tambiú.
Brejo denso escuro de mistérios
pra olho de menino, sua casa.
Buriti empacou sem medo de poda.
Impôs-se certo ar de patrão,
estalando vez em quando seu corpo roliço.
Esbanjando força e rigidez,
Buriti tem lentos espasmos musculares
quando vêm os empurrões do vento
que enchem a água de minúsculas ondas.
Buriti administra tudo.
Até a nobilíssima e frágil embauba curva-se.
Buriti agora é Rei.
Rei do Brejo.