segunda-feira, 18 de abril de 2016

Cumbaru

O Cumbaru quando empoema, põe cachos;
Castanhoso, sua gravidez é florada.
Em seu corpo cascaroso emprega formigas,
que oficiam na guarda da castanha nascente,
embalada em concha hermética.
Rígido, não se assanha ao vento moço
quando sacode sua cabeleira folhosa.

Em setembro se despe vagaroso
até que um verde terroso lhe pinte a choupa,
anunciando florezinhas esverdejantes.

É outono, em suas raízes o capim brilha serenoso,
abrindo grilos festeiros que se banham
(Tenho olho para miudezas em geral).

Serventia para mourões e esteios,
só seca com mijo de moça virgem
-Alendeia o povo, não ponho valência!
(O Vardi cismando pau oco).

A garça morena, o João de barro, bem-te-vi,
todo o povo rasteiro évem ver
sua sisudez: Compostura de pau.
Costuram seu canto amarelo à sombra,
em raleando o sol começa a pantomia.
-Jão de barro divurga o tempo da chuva!
-No deconforme do ano muda a porta.

Cumbaru balança os braços avisando a hora,


no derriçar do capim vê-se o caminho  se abrindo,
um cheiro de café acena a volta...

(Colhido em uma conversa com o Vardi)

segunda-feira, 28 de março de 2016

Notícias

-Tiro por eito que nesse inverno ingia,
mode a nevoada que evem madrugando!
Maracanã ta empoleirando im antes da lua branquear.
As tardes já estão com cheiro úmido,
rescendendo ureia nos restolhos da mindinha.
A aragem vem subindo resfriorenta,
pintando no horizonte manchas avermelhadas,
mode o esconder do sol se indo receoso.
É outono, e o mundo tem pressa.
As gentinha rasteira inaugura a noite cricrilando.
As folhas encerraram sua dança, receosas.
Coisa da maior desimportãncia se anuncia.
Coã já deu presságio agourento longe,
mas a seriema recém casada informa
que o mistério da noite se instala escurando.
Não há temor na matinha nem querelas,
só o estalido de pau que endireita o prumo.
-No escurão da noite, vurto divurga o medo!
Mas não tem pouso quando évem o sol.
Em nascendo desanuvia todo arreceio.
- É isso Seu! Me arrecolho que o amanhã é branco!
(As palavras entontecem a fala cedo)

domingo, 27 de março de 2016

Outono

Ah! As manhãs de outono quando évem,
trazendo as primeiras baforados do minuano
e no ar um gosto amargo de erva mate, entontece.
Nas folhas, respingos que tecem luzes matinais,
anunciam noites frientas, filhas de dias curtos.
É outono e o vim-vim na embaúba sabe;
Seu canto-choro vem bulindo com o dentro,
junto à cama de araras que passam rumo à serra,
que a minha avó semeou em seu quintal,
para além de um córrego lambarizento.
Naquele lugaroso que ela inventou devagar,
achei minhas memórias em uma gaveta velha
que rescendia a livros guardados, amarelecidos.
Bem cedo ela escrevia beijus numa porta
reluzindo sob o café soltando seu fumo.
Sendas míticas iam se formando à margem da cerca
coberta de marias-preta que nunca morriam,
porque o bem-te-vi célere semeava cagando.
Foi que dei começo às minhas lições de musgo
dando ponto ao meu olfato para o sórdido.
Aprendi a seguir formigas quando cortam
e sua fala tic-tic, que tem serventia inútil.
-Uédson! Ela chamava amanteigando o beiju.
(Sua fala, ela inventou mode chamar menino).
Deu nome as coisas que ninguém possuía,
embalando com a cantilena do bem-te-vi do cú cagado.
(que só se usava em emergência de sono).
Todo dia era um idílio de simplicitudes novas,
criadas entre refeições olorosas que avisavam cheiro.
Tenho isto bem encerrado, em memórias vivas
que se não são veras, inventei por imitação
aprendidas ao pé da serra da minha avó Bela,
(nome que ela recebeu por ofício de ternura)
sempre outono nela, sempre revividas.

sábado, 26 de março de 2016

Quintal

Há quem eleja palavras por qualidade,
dando a umas serventia de restolho;
Divirjo: o rebotalho me tem em valia valiosa.
Me formei em garimpeiro de monturos,
de estradinhas bordeadas de capim seco,
onde o vim-vim esconde os ovos pintadinhos.
Cantador de coisas ínfimas, me atinei para chãos,
para o rebuliço do vento na restinga do banhado.
Me alteram o cheiro da areia depois da chuva rala,
o chilreio do Maria-ferrugem aninhando.
Me entorpeci no cerrado por suas tardes,
onde um pau seco grita seu oco queimado.
Emudeci com o corre-corre do tambiú no reguinho,
que de tão silente amarelou uma tarde outonal.
Um aluvião abriga sonhos de pedregulhos andarilhos,
cheios de antigas historias de areia e gravetos,
viajantes de paragens onde não há rastro de gente.
Destas miudezas mínimas me tornei vassalo,
coisas inomináveis, coisas de nobre inutilidade.
O que não existe invento, o que não invento calo,
porque quando évem, em silencio barulhoso,
desses que faz a seriema assuntar a quietude,
me faz bordejar numa lembrança matagal,
de um tempo em que eu meninava uma nuvem.
Naquele tempo, diante da serra infantil
que nasceu no quintal de minha avó,
foi que aprendi a desvalia, o inútil,
o cheiro de palavras emboloradas,
o valor do desvario quando embeleza,
que ela guardava num saquitel amarelento,
com lições de vida e morte.
Senhora das estações, tinha tenências para ventos
e sabia de cor outonos e agostos.




sexta-feira, 25 de março de 2016

Monólogo com o Vardi

Tenho pra mim seu,
quessimundo tá em desgoverno adiantado.
Na boleia vai um sem eira,
que não se pinge estremecimento
nem com o agudo de gentes derramadas em estrada.
Tenências ninguém carece mais.
E a maleza abunda o corrido
ingual chuva que desaloja tatu.
Vou que os dontonte iam era formando o transcorrido em pressa.
Queimando, cortando pau, barricando rio, sem assomo nem pejo.
Povaréu vem vivendo feito bicho, mas bicho mesmo nem rastro.
Menino agora tem mais maleza que a urutu.
Assombração era im antes que formava,
agora marelou e se escondeu no medo,
que o modo dele agora é medrar o bem em mal.
Não regula mais nada, tudo entortou.
Passarinho canta por lonjura, que tem muito som no mundo.
O silêncio rareou numa carestia deserdada, não tem pouso.
Trasmudaram os tempos e as estações aluaram.
O vento persegue seu rabo altadas da noite
e esquece até a hora de seu turno ventoso.
Ninguém divurga nada nesse trasmundo.
É tudo desórtico, não tem procedência certeira,
évai num trote descavalado e sem rumo.
Donde se dá que nenhum se avizinha,
cada um assunta seu imbigo gordo.
-É seu! Sua graça desconheço proposital,
é em carecência de prosa que discorro,
mas em seu turno, empresto o ouvido,
mode assuntar seu desconforto.
Tresdigo e redigo,
têm tenência? tem nadas...