quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Aguaceiro

A beleza de agosto está na bagaceira,
no crepitar do capinzal tórrido.
Na anchura de um valado seco,
no prim-prim-prim de um rego lerdoso.
...
Uma fumacinha subiu na lonjura.
É queima que inaugurou  cana!
Um estalido anunciou água dentro,
mas o fogo lambeu sereno, sem pressa.
Redemoinho mentiu chuva breve:
-Tem capiroto que dança nele!
Coisa de se pegar em peneira e engarrafar.
-Qual! É astúcia do vento barulhoso!
-Se ocê num querdita num desdenha sô;
que é bicho assombroso de outro mundo!
Lenda de caboclo besta, sismoso sempre.
...
Sei de um segredo que ninguém conhece:
Um pedrusco avermelhado que escondi no morrote.
Sua pele sempre lisa, sua solidão me põe inveja.
Sou pessoa de gravetos, de cascas e estames partidos,
tenho apreço por grilos marrons e besouros cegos.
Uma nuvenzinha se aprumou no horizonte,
mas nem chuva nem vento, só secura.
A capoeira vai se organizando mode a noite,
que évem solerte, trazendo um bafo úmido,
um restolho de esperança, um alento ao seco.
Entre mugidos e grunhidos nos baixios,
um caga-cebo assoviou auspicioso
e o coleirinha banhou-se na areia mornenta.
Tanto festejo, tanta farrura nas copas,
agosto anuncia seu cansaço, 
breve évem aguaceiro!