segunda-feira, 26 de novembro de 2012

PIÁU

Sua alcunha nem é nome de homem.
Vem de seus habitos, bardoso que é
remansoso, vem varzeando a vida.
Carranca, lingua preguiçosa, barba de barrancas.
É dado a interjeições aquosas.
Conta historias de bichos e peixes,
Todos conhecidos, todos catalogados.
Queixada, lambari, poita que se perdeu
Mulher escanchada em porteira: meio riso.
Do canto do olho vermelho vem um deleite,
memórias de aventuras de barra de saia.
Mas logo encharca de novo as palavras
com a água barrenta, espera silenciosa e...
Pacú, piapara, jurupencem eh eh eh..
Estica os beiços e sorve a barranca inteira.
Ele pesca até nos guardados do pensamento.
Piáu! Ele nem atende mais pelo próprio nome,
mas reconhece logo o chamado ribeirinho.
Piáu! É título, é apelido, é sua historia.
-Eu sô sozinho! Se assegura de sua força.
Mas no estofo, é solidão e um embornal de medos.
Filhos tem, mas se foram.
Amigo de bichos e bicho homem.
É homem, é peixe, é várzea,
É um Piáu ensejando gente.