domingo, 18 de outubro de 2020

O arlequim

 

O homezeco entrou no salão apressado,

trazia chocalhos, guizos e a escarlata,

trajava vestais de escândalo e pantomimas

e começou seus mambembes célere,

com esguichos, parolas débeis

e notória algazarra.

Ora zurrava como um asno,

ora mugia, ora paroleava.

A audiência a princípio desdenhou

e do esgar foram ao riso,

logo estavam às favas.

Ele sentia que a bazofia era boa,

 dava saltos, bailava e esganiçava,

a grita o aplaudia e gozava.

Apitos, apupos e tiros

aos inimigos que inventava.

Foi assim por longo tempo

mas suas calças rotundas,

deixavam mostrar a genitália.

A certo tempo a turba empacou

pois viu-se detrás das cortinas,

as cordas que lhe alçavam...

Era um títere! Alguém o controlava.

Houve protestos, muita grita muitos gestos,

muita desdita e todos logo debandavam.

seu mestre vetusto se esquivava.

Mas derrubou-se o teatro

e o horror já se mostrava.

Todo de negro, besunto

seu corpo espinhoso limbava.

A cara horrenda, olhos saltados,

dentes de cão que grunhia,

nomes horrendos gritava.

Tudo se revelou,

tudo agora clareava.

Mas seu boneco insuflou!

Já tinha vontade, discursava.

Agora empunhava bandeiras

e ferros que balançava.

Seus partidários que dopara,

viam-no como antes,

um que tinha parolas,

que esperançava.

Arrebanhou para si aquelas pobres almas

e partiu ao ostracismo que a história lhe legara.

Mas outros vendo-lhe a bufa,

puseram de molho a barba,

aprenderam-lhe as astúcias

e cozeram-se para si fardas,

vestiram-se de devotos discípulos

e deram-se com vigor à charla.

 


terça-feira, 18 de agosto de 2020

Agosto e as chuvas

É um rufião

e se inaugura soproso,

com açoites se esfarfalha todo,

mode o povim-povim saber sua fúria,

seu reinado de tufões e poeira.

A secura vai ancha nas campinas,

estrepitando e deitando o erval.

o capim nédio vai derriçando

obediente ao seus caprichos.

Sua têmpera  de mulher rixosa,

não descansa no negrume da noite.

Ameaça com chuvaral, mas é embusteiro,

quer ver  o crepitar, o desterro.

Há quem se lambuze em seus arroubos

e até faça gosto em suas mungangas.

Sou destes que apreceia o desgosto,

a loucura de cães e os arabescos

que ele desalinha na anchura do mundo.

Agosto é pra quem tem partes co'um!

(nome de nem se desdizer que é ruim)

Com gravetos e besouros,

com a lagartixa quando espia

solerte, mas como quem morre.

Destarte vou criando raízes

e esporões do azedume de agosto.

-Êta que évem chuva sô!

-Né pouca não, ta percisano!