segunda-feira, 26 de agosto de 2024

Pleito

 Fogo roeu mato, vento ventalhou treva,

agosto vai findando seu desgosto…

Tempo de folga, promessa e sonho que évem verde.

Voto, rumorejo e barulhada tosca em novidade.

-Eta que o mundo deferençou pra igual!

-Eis acredita inte em fama e honor!

 Cachorro falou com descrédito e óbice,

que o gira-gira do mundo é pareio.

Carrapicho verdou, de esperança vestiu-se.

Em turnos, armam touceiras e viçam,

como o diabo, alastram-se pujantes.  

 

Cantilena de pardal, é vinda, mesmo chilreio,

mesmas pelejas, mas dormem no mesmo pau.

Patriota os vê invasores, de lusas terras.

-Qual! Que é bicho pequeno mas renitente.

De galho em galho, vão em vão, vão.

Empesteiam o mundo, e gritam, como gritam.

Brigam, se catam e cagam o mundo sortido.

Parvos como toupeira, mas sem a nobreza delas.

-Eis gosta é de cidade que é um à toa...

segunda-feira, 19 de agosto de 2024

A mulher azul

 


Um Panamá amarelo avua breve;

Flana sobre a areinha branca-branca

Do corguinho dêitico no valusto.

A vida amarela delas é cedo

Seu voo é silente e mimético.

O valado é glosa de alados 

e a linguagem delas é asa.

Mas no meio d’água, azulante 

um grande par de asas abana só…

Sobre uma pedra branca alta

ela confere sem pressa, seu cabedal,

o mundo vasto, mundico aquoso. 

Mistério dela é cor, voo cego, azul.

Telúrica e solar, ela é segredos,

vestindo sua túnica celeste, 

irmã de vestais, iluminada e assunta,

desaparece num átimo, no verde. 

Densa como a mata ela some

e vai pintando de azul, o oscuro,

el reino de sus alas majestuosas…

Panambi açu.

domingo, 18 de agosto de 2024

Sobre tudo

 Dou por mim, que nem tudo que se faz é útil

e nem tudo tem serventia certa.

No mais das coisas é tudo vão;

O nhum-nhum anhum do anu é ode,

não tem rima nem semelhança

com o industrioso João-de-barro,

mas ambos atinam mode utilidade

de seus ninhos e hierarquia passarosa.

 

Uma libélula abécula, em voo maquina,

transgride as possibilidades

e avua torta feito palavra errada,

mas sempre acerta o pouso certeiro.

Coisa que serve pra nadas. -Trestigo.

O guácho catuca qualquer teta

que é mode o decomer ele não ter,

que é mãe morta ou rejeitante…

 

Coisa de natureza tem regra e régua

E não se transgride o gene.

-Bicho que avua veve cedo sempe…

(O Vardi sempre assunta o vasto).

-Cá pras banda de cá, novidade deu;

Chuva vinda do lado torto errado!

Frio e geada que mata filhote certo.

-Quentar o mate e prosear no dentro,

visita certa só no tempo inserto…

terça-feira, 13 de agosto de 2024

Dia e noite...

 Sou home de posses ocas

Trago no regaço, perfídias

E tenho por tesouro um afago

Que de tão vago, não sei se vivo.

 

Dolo e desdém me amparam

Na secura de gente que passa

Não escutam nem ouvem, cala

Minha alma rala, em desalinho.

 

Tosco, meu canto roto

Ensimesmado e tartamudo

Não sabe donde vem seu eco

Pois quando rezo peco, Quasimodo.

 

Penedos e desertos argui

Por saber o que se deu no céu

No dia em que fui nascido,

Destarte envilecido, adormeci.

 

Mas o tempo sempre renova

Esperanças e alegrias findas

Em algibeiras de estrelas

Quando findam querelas, amanheci.

 

Vindos dias e noites tais

Quais são de lá e daqui

Onde o terror da morte

De outro modo sorte, quando partir.

 

 

 

Fuleiragem

 Um poeta é um cabra desocupado

Veve de desinventar termos e desocupar palavras...

-Hum! Só enfiando bufa em cordão!

Que de comer não se ganha com escrevinhatura,

gavando beleza em toco e cor de cavalo...

Que preço vale um palavrório?

Quantos quilates tem gatunhar o osco?

Cara pra cima, como se o éter fosse ofício,

evocando voz em formiga e casca de pau.

Tem tanto eito pra capinar, tanta indústria,

tanta encargo de gente que cresce o mundo...

-Sujeito enfiado em pensamento e ócio à toa!

-É nisto que o mundo vem gira-girando!

Em se labutar o ouro e o pão, o viver vivido.

Não em fuleiragem de rima e toleima!

Não se vê ele em expediente de labor,

ajustar cognatos é coisa de somenos.

Não tem tenências em realidades;

Nem constrói, nem descontrói;

É pelego e gosta de louvores d’obra.

Toldado em seu mundico restungo,

Voicera fala de inseto e canto d’água.

-Eu por mim, de minha lavra

ponhava tudo era em serviço

Que é coisa de homem homem...

segunda-feira, 12 de agosto de 2024

Orthoptera

Coisa que o mundo tem carencia é grilo,

bicho que avua im geral raleou,

mas tem pardal como o diacho

que é um vivente sem prumo...

Quando ajunta em turma, gargoleja alto...

É feito revoada de gente malina em guerreamento.

Eu de minha pessoa, perfiro grilo, a locusta,

e Louva-deus, que tem aquele jeitão de cônego,

sempre de olho na óstia e no coroinha...

Por minha vontade, devia de ter curso de grilo

na escola, mode ensinar menino ser gente...

Ja fui menino, mas era aluado e temia muxicão,

que é um tipo de pedagogia efetiva no juizo.

Hoje os homens não pensam em grilo,

pensam em ouro, fama, tiro e paulada em vivente.

Tem inté fabricação de estrovenga e canhão.

Grilo tem entendimento em ternura

e cantoria em geral, que é seu ofício de poeta.

Profeta já é caladão, fica só assuntando, quieto,

Ajeita a casaca, lambe os dedos e prepara o bote,

que de reza  sabe não nadas, só tem a fama,

mas é ladino como o tucano por pintainho.

Vale o dito: Quanto mais brilha a batina

Mais velhaco o frade, que é o caso do cônego...

Frio de Agosto

Deu-se no eito

que um saruê correu

com as crias, feito timbetê

agatunhadas no pelo peloso.

 

Frio evinha friando grosso,

selecionando o povo besta

que enoita fazendo fusca,

gravanhando lixo e latomia.

 

-Inté cachorro silenceia

e a motorama nao grunjeia ronco.

-Q’ié só gentelha que da papoco

achando boniteza em feiura feia.

 

Tardejava a madrugada findante

e um vento fustigoso amainava,

mode que o sol já luzmeiava

réstias de ouro no capim palha.

 

Era agosto anunciando sua ira

de menino malino, fosquejando.

as ventas abertas, olhar fino

espalhando bosta de baiano…

 

Eita curruera de pó que sobe

e a chuva presa feito piriri…

Agosto é voz de cachorro,

de ovo gôro mode cuidado.

 

-Tem destempero e feiúra nestrem!

Mas o mundo se enche de cores

e do vicejo que vem brotunhando

pra inaugurar setembro bocejando já!


sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

Colheita



Quando a tarde chuvalheia
de sombras esmas o milharal,
Chupim-do-brejo vigia osco no cepo.
senta praça e rijo, põe cuidado.
O bando arrevoa e colhe silente.
-Isto eu vi com olho meu mesmo
que não foi causo contado nem letra.
Bicho põe norma no roubo
que aprendeu em escola penosa 
e soldadeia sereno seu posto.
-Cará-cará évem! Foi, foi!
(Que é homem na língua passaral).
Alardeado o corno, revoada amarela
tinge a tarde quieta com seu dorso.


O verão morno sopra esperanças 
e a vida tange o povinho alado.
Com tantas tarefas, o tempo urge
sequioso e faminto de fazer e refazer 
a importante obra de multiplicar, 
de coser e entrelaçar fios,
de colorir, semear e significar, 
de repetir o tempo no tempo.
De preencher a vida com vida,
dando à cada dia sua urgência
que a noite évem noite sempre a mesma... 


quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

Natal

Coisou o tempo em seu regaço,

um desalinho mansoso que foi crescendo.

Dezembrava e o festivo aborrece por modo.

-Causo que desde sempre é o mesmo,

prosa igual, tardejar noite na rua

e os tiros. -Eh gente carniça.

-Por isso não tem cachorro cristão.

Eis vão à igreja mode silêncio e gente.

Deita as fuças sobre as patas, 

solene, quieta o rabo e escuta. 

-Diz o povaréu que balançar o rabo

desde im sempre foi pecado mortal na sé.

A cantoria faz alerta o penitente.

(Quando eis canta, logo enchem a pança).

Peru, galinha e todo bicho que avoa...


Cá no mato é a mesma norma sempre,

dormir cedo e madrugar o mate,

vestir a farda dantonte, assuntar o vento

 e escutar o guagajar na matinha...

-Chuvarou bem nestempo,

João-de-barro atrasou a obra.

Já tem nuvem arruaçando no longe

e o dia foi e voltou tal e qual...

Um menino em Rondônia...

 No ermo, um que vinha  

Passarinhou um vento leve.

Arara ponteou seu gras-gras 

Na copa balam-balam que era…

Ventou um pândego trôpego.

Assovio, crique-crique, estalo-talo

E a bazófia de uma disputa por posse d’arve.

(Que no desnoite cedo, quem foi, foi).

É tardenoite no eito, moradia inserta,

decomer já escasseou e escurou!

Bicho de olho tocha já espreguiçou,

Assuntou o cheiro, lambeu-beu e estirou.

Na gravanha o medo tem norma,

Assombração, pasmo e pau podre,

dão anúncio de coisa inserta, certa:

Que quem não corre não véve.

Tem prosa longes que só o zum se divurga.

Mas coruja não teme o breu

que seu olho é antena e gira-gira.

Uhu! Uhu! Feitiça ouvido de gente…

Estalido e corro pra luz 

Que a noite é trevosa e range.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

Guaipeca

 -O bicho cachorro é um coiso cépto!

(Diz o Vardi quando intenta o luso).
Só divurga o vasto e o tento.
não tem parenteio nem posse,
Só o arreceio do rabo

que é seu rumo no rastreio.


Feiura dele é causo de saúde,

porque tem caldo diverso no pelo.

Serventia de cheiro e notícia,

conhece fala de carro e pisada,

e tudo que desanuveia o sentido reto.


Cão, prissiga, peste, carcumo

só presta pra comer e peidar.

Todo nome que recebe apoita,

mas é causa que o som familía

e o povo assume que é ciência.



Já nasce de casaca e coceira:

Coça como o diabo e fede...

Tem cheiro de cascuda e borno.

Mas em dia de noite assunta…

Da aviso, restunga e ressente

tudo que entorta o medo

ele enxerga no lusco e grungeia...

segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

Aguaral

Buriti se apegou à pedra 

com esperanças de raiz

porque dela merejava no limbo.

Oco de pau sorriu-se moco,

na trilha d’anta fiotada.

(É perciso ser reto em fala torta do povo)

Tudo buburinhou na manhã 

de nuvens parcas veraneiras

e aquele ventinho ventoso,

que envinha-vinha na copa baixa.

Tenho cisma de grotão

onde o capim navalheia.

Chupim e o passopreto

no entorno do brejinho mode gole,

assuntando água e cisma alerta,

dão conta de chuva chuventa

que évem vem-vem rala, molhadeira.

É dezembro e o mundo range

de alegrias ensaiadas, antigas.

Deferençou nada no ermo:

Musco ogrou sua beleza,

imbaúba viçou viçosa...

Tudo segue seu ritmo tatibitate.

Gorgojeios, zumbidos, estalos.

Tiziu cantou seu canto-pulo

para o buriti teimoso no rego.

Piripimpim d’água rala vazou

mundo adentro, vida veloz e sempre.

-É tarde tardejando! Hora da boia no rancho…

Colchete

Meu canto não é lira, é toco.

Canto o torto, o fosco, o limbo

o roto. Não tenho tenências valiosas.

Sei que vou passar como um borrão

em dia de vento errado.

Tenho fala de bicho-gente e animal.

Divurgo coisas inúteis

de serventia pouca:

Cor de cavalo, nome de pau,

piado de aves e palavrório.

...

Fazenda Pedra Bonita ensina,

mas tem porteiras como o diacho.

Curva, morrote, pau torto e cipó.

Aquele riozote que passa lentoso

leva-leva até o Brilhante que é pardo.

O Arlete é homem simprão

mas só na farda, no por dentro é bardoso.

Vive seu viver vivendo sempre, sempre…

Desdorme por volta das três e meia

enquanto o galo ainda sonha penoso.

Chimarreia e sai pro eito no desnoite.

Anta que amansou com manga

vem bandiar o terreiro,

cachorrada nem tusga.


Dia é dia já, e o sol vai no eito longe.

Visita que sou, assunto a prosa:

Onça, enchente, gente que morreu,

causo de chifre, facada e tiro que deram,

mode amor, desdita e dívida.

Tudo acontece na vila, que é antiga como pedra.

Não tem falta de nada, tudo serve.

Cachorro tem de turma, diverso na cor e feiura.

Fartura de muito compadre e colchete,

colchete como o diacho...

terça-feira, 4 de outubro de 2022

Poetas

 O poeta é um amante do belo

da natureza, da nobreza

e ama tanto, tanto

que tanto, enterneceu-se...

Tomou para si um canto de pássaro 

e o reteve em seu quintal,

em uma linda gaiola, munida de grãos,

sementes e água limpa.

O pássaro feliz canta

seu canto de desterro...

Velhos...

Velhos estão sempre alforjados
de alguma valia e desvalia.
Sempre à mão uma sacola colorida
donde recolhe seus achados,
arruelas, parafusos, cordões
que sempre serão imprescindíveis.

O tempo curvou-lhes a cerviz 
e agora seus olhos gastos veem
o chão e seus tesouros.
É no chão, na terra que ele se reconhece,
seus destino, sua origem e seu fim.

Olhar para cima nada lhes acrescenta,
o éter é para os loucos e poetas
que veem na amplidão razão e significado...
idiotas!É no chão que está o fluido...
Anseiam pelo abraço telúrico,
pelo calor de Gaia, eviterna.

Mãe que apodrece as vilezas,
desditas, honras e sordidez.
Senhora das horas, dos príncipes,
de toda beleza e todo feiume.

Sheol de todas as palavras,
guardiã de poemas e crenças...
O velho vai ensejando vida,
desterrando nomes e histórias
que o piso calcado vai puindo...

Segue seu curso indeciso mas infindo
com os pés bem fincados em seu chão...

segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Chuva

 Uma gota da chuva de im antes

translúcida, prestes a desabar

no abissal espaço entre a folha e o chão,

pulsa levemente, sabendo-se o último

vestígio chuvaroso da noite alumiada.

No em baixo, formigava a saúva laboriosa,

com suas trempes e alforje de ínfimas coisas, 

seguindo na highway d’ontes, célere.

O ventoso, contido em sua fúria noturna

de espalhar folhas e gravetos, aluía,

bafejavando seu hálito refrescoso e cálido.

Mínimas jataís, voa em torno assuntando.

Sim, jataí é bichinho cestroso, que espera,

sem alvoroçar como a caga-fogo.

Enfim segue seu destino desaboso e cai.

A saúva tomba com o impacto da gota,

que se espatifa num aluvião molhoso.

Caos! Milhares de gotículas explodem

aquosas, iluminadas pelas réstias.

Em cima, nuvens fogem, abrindo a janela

do azulamento festivo da infinitude,

no éter profundo, onde o pensamento

não alcança, lá, na negrura da escuridão

onde o fiat lux se deu,

onde ecoam explosões infindas de fogo e gelo,

onde cá embaixo o zoio d’homem carcula,

enrolando seu fumo de ilusão e medo.

Lá, nas bordas do infinito, um olho vê

o pensamento desfazer-se como a névoa,

na bolinha azulada, morada de formigas,

que seguem seu caminho de ajuntar sempre.

quarta-feira, 6 de outubro de 2021

Mundos

Sinto falta dos grilos,

da vermelhura negra de joaninhas.

Onde estão as borboletas?

Não avuam mariposas?

O povinho miúdo esquivou-se

e as noites são limpas.

Só o chorume mole do metal,

aquele moto contínuo de engrenagens,

luzes onde devia alumiar a lua,

ou simples negrura...

Capiaus são almas binárias,

não sabem mais o canto da Gia

e pererecas são E.Ts assombrados.

Quando eu meninava no eito do mundo

na longínqua Rondônia,

onde o sete-pernas campeava suas botas,

eu sabia de cor o tau-tau do sapo martelo.

No de manhã, o tisiu assuntava toco

no seu canto-pulo, e azulava no mundo.

Esse mundo roto, mundo de aço,

mundo de gentes curvadas sobre o santo totem da luz que encandeia,

como a sucuri quando ensaia abraço.

Nesse mundo oco não cabem mais  vaga-lumes nem cigarras encantando paus.

Centopéias e Marias-fedidas secaram,

inté gambá virou assombro...

Quedê o bate-bate do grilinho marrom?

O louva-Deus é finado?

Tem base um trem desse?

Tem não sô, por mode que é tudo lógico,

tudo não faz conta nesse mundo outro.

quinta-feira, 11 de março de 2021

Possessão

Sou pessoa de gravetos e besouros,

coleciono folhas e sementes

e tenho uma orelha de pau amarela.

Um saci me deu um apito de pena,

diz que chama anta e desvia vento.

Tenho ideias para grilos marrons

e formigas de Embaúba mole.

A estradinha que entortou a tarde

é o meu caminho para a eternidade,

no lusco-fusco das manhãs eu medro

entre uma casca de pequizeiro

e a sucupira prenhe que solta bagos.

Minha alma é cascarosa e áspera,

tem estames, limbo e veios.

Um urutau me ensinou um toco,

enganar a morte é arte de esgueirar-se,

de folhar-se e escutar o quem-quem avuando.

Sou raso, e guardo burburinhos no bolso

mode dormir um regato na noitinha

quando évem gorgorejando a lua.

Tenho pressa não, ambições de sereno

e um calanguinho que escondi,

onde o sonho é sempre vívido,

onde deito meu cansaço, meu temor,

onde não tenho possessão nem desejo,

só o som de aluviões e um vento besta,

que desalinha folhas e pedrinhas inúteis.


domingo, 18 de outubro de 2020

O arlequim

 

O homezeco entrou no salão apressado,

trazia chocalhos, guizos e a escarlata,

trajava vestais de escândalo e pantomimas

e começou seus mambembes célere,

com esguichos, parolas débeis

e notória algazarra.

Ora zurrava como um asno,

ora mugia, ora paroleava.

A audiência a princípio desdenhou

e do esgar foram ao riso,

logo estavam às favas.

Ele sentia que a bazofia era boa,

 dava saltos, bailava e esganiçava,

a grita o aplaudia e gozava.

Apitos, apupos e tiros

aos inimigos que inventava.

Foi assim por longo tempo

mas suas calças rotundas,

deixavam mostrar a genitália.

A certo tempo a turba empacou

pois viu-se detrás das cortinas,

as cordas que lhe alçavam...

Era um títere! Alguém o controlava.

Houve protestos, muita grita muitos gestos,

muita desdita e todos logo debandavam.

seu mestre vetusto se esquivava.

Mas derrubou-se o teatro

e o horror já se mostrava.

Todo de negro, besunto

seu corpo espinhoso limbava.

A cara horrenda, olhos saltados,

dentes de cão que grunhia,

nomes horrendos gritava.

Tudo se revelou,

tudo agora clareava.

Mas seu boneco insuflou!

Já tinha vontade, discursava.

Agora empunhava bandeiras

e ferros que balançava.

Seus partidários que dopara,

viam-no como antes,

um que tinha parolas,

que esperançava.

Arrebanhou para si aquelas pobres almas

e partiu ao ostracismo que a história lhe legara.

Mas outros vendo-lhe a bufa,

puseram de molho a barba,

aprenderam-lhe as astúcias

e cozeram-se para si fardas,

vestiram-se de devotos discípulos

e deram-se com vigor à charla.

 


terça-feira, 18 de agosto de 2020

Agosto e as chuvas

É um rufião

e se inaugura soproso,

com açoites se esfarfalha todo,

mode o povim-povim saber sua fúria,

seu reinado de tufões e poeira.

A secura vai ancha nas campinas,

estrepitando e deitando o erval.

o capim nédio vai derriçando

obediente ao seus caprichos.

Sua têmpera  de mulher rixosa,

não descansa no negrume da noite.

Ameaça com chuvaral, mas é embusteiro,

quer ver  o crepitar, o desterro.

Há quem se lambuze em seus arroubos

e até faça gosto em suas mungangas.

Sou destes que apreceia o desgosto,

a loucura de cães e os arabescos

que ele desalinha na anchura do mundo.

Agosto é pra quem tem partes co'um!

(nome de nem se desdizer que é ruim)

Com gravetos e besouros,

com a lagartixa quando espia

solerte, mas como quem morre.

Destarte vou criando raízes

e esporões do azedume de agosto.

-Êta que évem chuva sô!

-Né pouca não, ta percisano!