sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

Colheita



Quando a tarde chuvalheia
de sombras esmas o milharal,
Chupim-do-brejo vigia osco no cepo.
senta praça e rijo, põe cuidado.
O bando arrevoa e colhe silente.
-Isto eu vi com olho meu mesmo
que não foi causo contado nem letra.
Bicho põe norma no roubo
que aprendeu em escola penosa 
e soldadeia sereno seu posto.
-Cará-cará évem! Foi, foi!
(Que é homem na língua passaral).
Alardeado o corno, revoada amarela
tinge a tarde quieta com seu dorso.


O verão morno sopra esperanças 
e a vida tange o povinho alado.
Com tantas tarefas, o tempo urge
sequioso e faminto de fazer e refazer 
a importante obra de multiplicar, 
de coser e entrelaçar fios,
de colorir, semear e significar, 
de repetir o tempo no tempo.
De preencher a vida com vida,
dando à cada dia sua urgência
que a noite évem noite sempre a mesma...