quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

Natal

 Coisou o tempo em seu regaço,

um desalinho mansoso que foi crescendo.

Dezembrava e o festivo aborrece por modo.

-Causo que desde sempre é o mesmo,

prosa igual, tardejar noite na rua

e os tiros. -Eh gente carniça.

-Por isso não tem cachorro cristão.

Eis vão à igreja mode silêncio e gente.

Deita as fuças sobre as patas, 

solene, quieta o rabo e escuta. 

-Diz o povaréu que balançar o rabo

desde im sempre foi pecado mortal na sé.

A cantoria faz alerta o penitente.

(Quando eis canta, logo enchem a pança).

Peru, galinha e todo bicho que avoa...


Cá no mato é a mesma norma sempre,

dormir cedo e madrugar o mate,

vestir a farda dantonte, assuntar o vento

 e escutar o guagajar na matinha...

-Chuvarou bem nestempo,

João-de-barro atrasou a obra.

Já tem nuvem arruaçando no longe

e o dia foi e voltou tal e qual...

Um menino em Rondônia...

 No ermo, um que vinha  

Passarinhou um vento leve.

Arara ponteou seu gras-gras 

Na copa balam-balam que era…

Ventou um pândego trôpego.

Assovio, crique-crique, estalo-talo

E a bazófia de uma disputa por posse d’arve.

(Que no desnoite cedo, quem foi, foi).

É tardenoite no eito, moradia inserta,

decomer já escasseou e escurou!

Bicho de olho tocha já espreguiçou,

Assuntou o cheiro, lambeu-beu e estirou.

Na gravanha o medo tem norma,

Assombração, pasmo e pau podre,

dão anúncio de coisa inserta, certa:

Que quem não corre não véve.

Tem prosa longes que só o zum se divurga.

Mas coruja não teme o breu

que seu olho é antena e gira-gira.

Uhu! Uhu! Feitiça ouvido de gente…

Estalido e corro pra luz 

Que a noite é trevosa e range.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

Guaipeca

 -O bicho cachorro é um coiso cépto!

(Diz o Vardi quando intenta o luso).
Só divurga o vasto e o tento.
não tem parenteio nem posse,
Só o arreceio do rabo

que é seu rumo no rastreio.


Feiura dele é causo de saúde,

porque tem caldo diverso no pelo.

Serventia de cheiro e notícia,

conhece fala de carro e pisada,

e tudo que desanuveia o sentido reto.


Cão, prissiga, peste, carcumo

só presta pra comer e peidar.

Todo nome que recebe apoita,

mas é causa que o som familía

e o povo assume que é ciência.



Já nasce de casaca e coceira:

Coça como o diabo e fede...

Tem cheiro de cascuda e borno.

Mas em dia de noite assunta…

Da aviso, restunga e ressente

tudo que entorta o medo

ele enxerga no lusco e grungeia...

segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

Aguaral

Buriti se apegou à pedra 

com esperanças de raiz

porque dela merejava no limbo.

Oco de pau sorriu-se moco,

na trilha d’anta fiotada.

(É perciso ser reto em fala torta do povo)

Tudo buburinhou na manhã 

de nuvens parcas veraneiras

e aquele ventinho ventoso,

que envinha-vinha na copa baixa.

Tenho cisma de grotão

onde o capim navalheia.

Chupim e o passopreto

no entorno do brejinho mode gole,

assuntando água e cisma alerta,

dão conta de chuva chuventa

que évem vem-vem rala, molhadeira.

É dezembro e o mundo range

de alegrias ensaiadas, antigas.

Deferençou nada no ermo:

Musco ogrou sua beleza,

imbaúba viçou viçosa...

Tudo segue seu ritmo tatibitate.

Gorgojeios, zumbidos, estalos.

Tiziu cantou seu canto-pulo

para o buriti teimoso no rego.

Piripimpim d’água rala vazou

mundo adentro, vida veloz e sempre.

-É tarde tardejando! Hora da boia no rancho…

Colchete

Meu canto não é lira, é toco.

Canto o torto, o fosco, o limbo

o roto. Não tenho tenências valiosas.

Sei que vou passar como um borrão

em dia de vento errado.

Tenho fala de bicho-gente e animal.

Divurgo coisas inúteis

de serventia pouca:

Cor de cavalo, nome de pau,

piado de aves e palavrório.

...

Fazenda Pedra Bonita ensina,

mas tem porteiras como o diacho.

Curva, morrote, pau torto e cipó.

Aquele riozote que passa lentoso

leva-leva até o Brilhante que é pardo.

O Arlete é homem simprão

mas só na farda, no por dentro é bardoso.

Vive seu viver vivendo sempre, sempre…

Desdorme por volta das três e meia

enquanto o galo ainda sonha penoso.

Chimarreia e sai pro eito no desnoite.

Anta que amansou com manga

vem bandiar o terreiro,

cachorrada nem tusga.


Dia é dia já, e o sol vai no eito longe.

Visita que sou, assunto a prosa:

Onça, enchente, gente que morreu,

causo de chifre, facada e tiro que deram,

mode amor, desdita e dívida.

Tudo acontece na vila, que é antiga como pedra.

Não tem falta de nada, tudo serve.

Cachorro tem de turma, diverso na cor e feiura.

Fartura de muito compadre e colchete,

colchete como o diacho...

terça-feira, 4 de outubro de 2022

Poetas

 O poeta é um amante do belo

da natureza, da nobreza

e ama tanto, tanto

que tanto, enterneceu-se...

Tomou para si um canto de pássaro 

e o reteve em seu quintal,

em uma linda gaiola, munida de grãos,

sementes e água limpa.

O pássaro feliz canta

seu canto de desterro...

Velhos...


 
Velhos estão sempre alforjados
de alguma valia e desvalia.
Sempre à mão uma sacola colorida
donde recolhe seus achados,
arruelas, parafusos, cordões
que sempre serão imprescindíveis.

O tempo curvou-lhes a cerviz 
e agora seus olhos gastos veem
o chão e seus tesouros.
É no chão, na terra que ele se reconhece,
seus destino, sua origem e seu fim.

Olhar para cima nada lhes acrescenta,
o éter é para os loucos e poetas
que veem na amplidão razão e significado...
idiotas!É no chão que está o fluido...
Anseiam pelo abraço telúrico,
pelo calor de Gaia, eviterna.

Mãe que apodrece as vilezas,
desditas, honras e sordidez.
Senhora das horas, dos príncipes,
de toda beleza e todo feiume.

Sheol de todas as palavras,
guardiã de poemas e crenças...
O velho vai ensejando vida,
desterrando nomes e histórias
que o piso calcado vai puindo...

Segue seu curso indeciso mas infindo
com os pés bem fincados em seu chão...