quinta-feira, 13 de maio de 2010

Sobre o profundo. (Jeremias 17.9)

É profunda a dor
Como é o sofrimento
De tão fundo o siso
Que é tísico o clamor.

Vem em ebulições
Que volúpia não tem
Nem magma, nem lava
É seco como o gelo profundo.

É estático, sem cor
Todo pedra, todo vapor
De um lugar que não sei
Ele vem, informe, inodoro.

Não fede e não cheira
Não tem sequer bolor
Mas existe e é tátil
Sem forma nem teor.

Rarefeito e insalubre
Ele está dentro, estanque.
Inominável, imensurável.
É profundo, é dor.

E ele se apega a carne
Se agarra como escama
Com seu cheiro podre
Seu caminho, aluvião.

Das profundas águas
Insondáveis do coração
Quem o conhecerá?
Quem medirá seu poço...

Uma cana de medir
Um juiz angular
Um menino
Um sopro o argüirá.

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