quarta-feira, 13 de agosto de 2025

 Olho para a face de minha mãe 

E vejo nela, a bocarra do tempo

Com seu pelo hisurto

olhos vermelhos de ira paciente 

Esperando nela, o desalinhar-se

Para decompor-lhe os gestos, 

A voz, o tracejado, que a vida

Inconsequente lhe fez tingir.


Não penso nele em mim acossado

Por que de onde estou não lhe vejo o cenho

Cerrado de ódio e indiferença, ávido 

Por consumir-me nela, pelo oposto

Que sem poder algum, impotente

Assisto seu riso amorfo, quase esgar,

Tragando-me a memória da tez alva,

Da inspiração vital, dos sonhos encanecidos.


Absorto que está em seu ofício de desalinho 

Adia-lhe o opróbio por gosto em ver 

Seu trabalho tão bom e especializado, 

Que consumiu Reis, cavalos e cavaleiros 

Que devastou impérios e eras 

Que encerrou amores e vendetas,

Não fazendo caso de honras e vultos

Desfazendo concílios e cizânia 

Com  o mesmo descaso e eficiência.

Nenhum comentário:

Postar um comentário