segunda-feira, 13 de junho de 2011

Passageiros.

Me disseram que ele é feio
E que, portanto, é feio ser feio.
É feio contrariar a beleza.
Tanta beleza posta sobre uma poltrona marrom,
confortável e segura em seu barquinho.
Ela não teme, não implora, não se sente ameaçada.
Ele me perscruta serenamente, de seu pináculo.
Posso ver sob a luz, pequenos vasos azuis
sob a pele branca, ainda imaculada pelo tempo.
A brancura das mãos, faz-me saber dos pés
sempre escondidos, sempre seguros do caminho.
Do lado de cá dos abismos, peço-lhe que me salve,
que construa uma ponte, mas ela sabe da acrofobia.
Quisera ser resgatado, por suas mãos brancas.
Ser içado do Sheol, lavado e quarado em ribeirões.
Anestesiado por eflúvios de alegria infantil,
viver o resto que resta, sem pressa, sem susto.
Mas ela é apenas um passageiro como eu,
Que questiona a feiúra do feio.
Ela quer ver a beleza, e talvez até consiga.
Ela quer me mostrar que há um jardim secreto,
Onde uma fonte se insinua por entre flores amarelas.
Quer me mostrar que borboletas flanam sob a água,
satisfeitas e impolutas, com pressa de sorver a vida breve.
Ela própria esta agarrada ao jardim,
por um cordão umbilical indissolúvel.
Mas seu jardim tem ordem como em Monet,
Sou Basquiat, sou Dali, sou névoa e chumbo.
Tenho o peso de mil eras.
Sou como um hidrante seco numa rua deserta.
Preciso tomar um copo de esperança,
Sorve-lo devagar e deixar molhar o peito
como quando era menino.
Quando as coisas eram elas mesmas
e eu não podia, nem sabia explicá-las.
Quando o medo vinha deitar-se comigo
e fugia apavorado com o sol.
Nesse tempo, eu existia irresponsávelmente
e cada dia era uma aventura e eu podia aprender.
Parece que agora eu já sei tudo...

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