domingo, 19 de maio de 2013

República


I
Passarim idêio um pouso
mas a empreitada ingigia cálculo.
(Em lingua de bicho, palavra não tem zói)
O mandorová camuflado sanfonou sob a folha
e o pinhé eriçou a plumagem feito onça,
sem perícia, confundiu antena com estame,
e a lagarta foi tecer no oco dum toco.
Foi assim a derrota do Golias.
Enquanto ela operária, partidária
cozia sua cama mimetista,
bem bordada em dois olhos carmesim,
um em cada asa de seu novo reino.

II

O louva-deus pardo, com seus óculos de boticário
Mais parece um contabilista sobre os livros.
em seu terno marrom discreto, escova as patas.
Calculando o bote, tocaia uma borboleta flamejante,
é a Vanessa braziliensis,frágil criaturinha tropical.
Pernas cruzadas, com cara de bom moço,
em pose tão beata, ataca, fere e come.
Sua sisudez proletária, sua postura sindical
não revelam a frieza do caçador solitário.
Mas ele não tem pressa, tem por Senhorio
Um velho barbudo, deus de toda peçonha.

III

A formiga cabeçuda fez um ninho de terra branca,
em volta, coroou com gravetos e folhinhas secas.
Diligentes como deputados, fiscalizam o séquito
que vem trazendo folhas maiores que seu corpo.
Pelo caminho trocam frases em formiguês e seguem.
Numa ampla câmara com ar condicionado estacionam.
A presidenta aquiesce, orgulhosa de seus soldadinhos vermelhos
Cônscia da breve turbulência lá fora, ela segue sua campanha.
Nada teme, sua vida será boa e longa,
ela também tem seu deus bonachão a lhe guiar...

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