domingo, 21 de setembro de 2014

Uma historia de caçador

Mané Tiriça por serventia de caçador
era destemor pelas bandas do vinte e um.
Nossinhora por guia de arreceio assombroso
trazia no peito pendurada em amuleto sortoso.
Sem carecência de convívio com gentes,
alongava vê se achava cateto ou capivara.
Em não tendo, se valia de seriema ou tatu
mormente onça e bandeira tal e qual.
Conviviam na mesma cara maleitosa,
certo amor por penosos de menor monta
e a sanha pelo arfar tomboso da anta quando espicha.
Era assim mofino com o chupim barroso, o japu-preto
e o coleirinha, que mirava por despropósito de susto.
Mas em um dia de vento que entorta o corrido,
pairou sobre o quengo um juízo, um fragor de alma.
Q'esse negrume vinha lhe consumindo o quieto:
-Desde o im'antes, de tempos que num alembro!
Por desamor de tudo, ia-se já quase devorado,
tanto pasmo, que lhe passava já o esfolamento,
o sangue, a brancura dos olhos embaçando...
A terçã tingiu sua pela amarelosa e o dentro,
tanto e quanto que agora esmorecia os feitos.
Menos por gosto que honra, limpava o cano
e amargava a boca desde o ventre, antecipado.
-Devia de ser a cria deixada à lua cheia q'elaveis!
(Um balote certeiro num mateiro filhotado)
O sucedido enojava-lhe as mãos trêmulas.
Não podendo mais sustentar notoriedade,
caçadas sempre com escusas falseadas
Pois-se em reza mode sossego, mas qual...
Era o balido mais que o estampido, um soco
no estômago já enojado de todo apreceio.
Finou-se assim o Mané Tiriça por sobrenome caça,
caçado pela tísica dor d'alma que consome mole
a carne, o querer e a certeza que corre dentro...

...


(Colhido em um assuntamento de prosa que passava)




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