terça-feira, 4 de agosto de 2015

Bolicho

No ar um cheiro de fumo e pão dormido
que se mistura ao do jornal embrulhoso.
Grandes prateleiras guarnecidas de escassez
deferencia o piso de madeira,
lhenado de sacos de farinha a granel,
sempre batizadas por um bocado à boca.
Cachaça, vermute, raizada e conhaque;
eram o bem maior da guarda de Fogoió,
sempre encostado ao balcão, media espaçoso
a fundeza daquele mundo besta que passava.
Menino menor que a bicicleta escanchava,
outro sacolejava nas ancas da mãe criança,
e um homem velho media a largura dos passos.
O bolicho era uma janela para o além;
alem das coisas, das caras, além do chão.
Cá dentro pode-se ver o longe-longe
que ninguém conta e nem assoma.
Fogoió assiste o passante e o corrente
não se movendo muito mode o calor.
Armado com um cacho de buriti seco,
espanta moscas funcionárias que lhe acometem.
O bolicho é o mundo? O mundo é o bolicho?
Não sabe nem ensina: Serve o freguês indês.
Um gole, uma carranca e um: - Será que chove?
- Sei não que três antonte deu uma aguada danada!
Revés e entrevés, segue a prosa rumo à morte,
que assunta o assunto bebericando desde o mudalém.
Talagada mais e os santos jazem todos bêbados.
É hora de fechar, mas os vãos denunciam o sol poente.
Um cheiro de comida corre a rua aos gritos,
anunciando que o dia abriu a porta da noite
e deixou entrar o gozo de descanso e silencio.
Vê que o mundo é o mesmo corrido vagaroso?
Mas no de dentro é que se sabe o quanto resta,
pera fechar a porta sem fresta nem réstia,
nem gentes, nem dentes, só o oco do mundo,
mundo novo, de onde não se tem notícia,

onde o bolicheiro não vende nem mente verdade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário