domingo, 21 de maio de 2017

Cerrado

O cerrado me entardeceu cedo;
Um cheiro ocre, tão áspero, embriagou.
Telúricas almiscaradas se misturam,
tecendo-me teias imemoriais.
Sendas amarelecidas permeiam-me,
rastros, uréia, pedruscos medram dentro.
O outono finalmente desfolhou-se
e enterneceu um pequizeiro.
A escassez do cerrado ensina;
Aprendo-lhe a economia,
o alheamento, o caos ordeiro.
-Lobinho diz que tem, mas raleia!
Tamanduá assunta formiga no vento,
quero-quero mente o ninho gritando.
Agora tem um tom chumboso nas folhas,
breve agosto virá derriçar o capim.
No cerrado o medo erra caminho:
-Assombração num tem gosto na luz!
E quando a noite évem, devagarinho,
a grilaiada organiza o baile inté tarde!
Trovejou na borda da mata dentro:
-Bugio deu notícia de chuva:
Com três dias aguaceiro é certo!
-Há no cerrado toda sorte de vivente!
Uns veve em cima, outros no embaixo!
Essa lonjura sempre no horizonte,
aumenta a vista da imaginação.
O cerrado encerra tudo no homem,
Inté o palavrório vareia!

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