segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Um pé de macaúba.

Sou um pé de macaúba no meio da invernada
Não se pode ver nenhum outro como eu no horizonte
Minha casca esta envelhecendo, meu tronco se curva
Aquela resistência que tinha aos ventos não é mais a mesma
Uma brisa leve me esfria e me entorta todo
Já me firo com meus próprios espinhos
E minhas folhas caem antes do tempo.
No solo posso ver cachos de ideias prematuras
Já apodrecendo sem nenhum roedor para comê-las.
Aquele cheiro acre-doce dos frutos agora não sinto mais.
Aproveito as noites de vento forte e uivo
Clamando ao Senhor das embaúbas.
O único som que ouço é o farfalhar de minhas próprias folhas.
Aquela arrogância vegetal que eu tinha
Aquele viço atrevido, cheio de espinhos novos
Se foi com os últimos pés de macaúba arrancados.
Sabiás de peito amarelo não se empoleiram mais aqui
Nem mandruvás comem mais das minhas folhas
pica-paus não vem escarafunchar corós em minha casca podre.
Ouço apenas o som de grilos a noite la embaixo.
Boa companhia os grilos, sempre procurando seus pares.
Mas eles não se importam comigo.
Nem vacas, nem burros se recolhem à minha sombra rala.
Mas já estive entre amigos, já produzi frutos doces,
Com aquela carne amarela, cheirosa.
Meninos de beira de rio vinham catar
e chupar até ficar só a dura semente.
Agora apodreço lentamente
sob um céu azul e um sol que não encantam mais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário