domingo, 28 de abril de 2013

Crise existencial.

Com o corpo atolado na rede
e os olhos pendurados nas estrelas,
um cheiro de mato me anela.
Numa poça de cantorias e cortejos,
um sapo goteja seu canto incerto.
Ora diz, ora pergunta: quem vai? Évem?
É noite? É dia? É rã ou é gia?
Sob o estalido de galhos se rompendo
e o tom da grama crescendo...
Pergunto ao éter, (ao que se oculta na voz da saparia):
De onde vim? Para onde vou?
O sapo entoa seu gemido Bachiano:
- De Pedro Gomes! Pedro Gomes!
A gia sussura sua vozinha melíflua:
-Pra Coxim! Pra coxim!
(O que, aliás, é o equivalente a capitania).
Agora sei a rota e o rotundo
Sei o raso e o profundo:
Sou um sujeito de quimeras
pessoa de capoeiras e cacimbas.
Gerado nas entranhas do nonada,
do que não é, de gentes vãs,
de coisas sem valia, sou cria
dessa cablocracia, dessa parva, desta saparia.
Sou filho do marracabelo
e meu destino é a morraria.

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