domingo, 27 de março de 2016

Outono

Ah! As manhãs de outono quando évem,
trazendo as primeiras baforados do minuano
e no ar um gosto amargo de erva mate, entontece.
Nas folhas, respingos que tecem luzes matinais,
anunciam noites frientas, filhas de dias curtos.
É outono e o vim-vim na embaúba sabe;
Seu canto-choro vem bulindo com o dentro,
junto à cama de araras que passam rumo à serra,
que a minha avó semeou em seu quintal,
para além de um córrego lambarizento.
Naquele lugaroso que ela inventou devagar,
achei minhas memórias em uma gaveta velha
que rescendia a livros guardados, amarelecidos.
Bem cedo ela escrevia beijus numa porta
reluzindo sob o café soltando seu fumo.
Sendas míticas iam se formando à margem da cerca
coberta de marias-preta que nunca morriam,
porque o bem-te-vi célere semeava cagando.
Foi que dei começo às minhas lições de musgo
dando ponto ao meu olfato para o sórdido.
Aprendi a seguir formigas quando cortam
e sua fala tic-tic, que tem serventia inútil.
-Uédson! Ela chamava amanteigando o beiju.
(Sua fala, ela inventou mode chamar menino).
Deu nome as coisas que ninguém possuía,
embalando com a cantilena do bem-te-vi do cú cagado.
(que só se usava em emergência de sono).
Todo dia era um idílio de simplicitudes novas,
criadas entre refeições olorosas que avisavam cheiro.
Tenho isto bem encerrado, em memórias vivas
que se não são veras, inventei por imitação
aprendidas ao pé da serra da minha avó Bela,
(nome que ela recebeu por ofício de ternura)
sempre outono nela, sempre revividas.

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