Na avenida Calógeras,
moças ocas esperam
na porta inconsciente,
soslaio no séquito.
Esperam o freguês, o paciente,
o impeachment, o golpe transeunte.
Passam velhos, moços cansados,
passam meninos, meninas casadas.
Todos passaram...
Passou o dia, passaram os anos,
a moda passou, elas ficaram.
As moças ocas botaram brotos,
seus olhos extenuados secaram.
Mas o tempo ali não passou,
foi ficanducando, criando arestas,
deixando marcas empoeiradas,
marcas de desesperança, esperando.
O verdugo das horas marcou incessante
no descompasso de um tempo antigo,
sempre o mesmo modo, redundante.
As moças aquiesceram, sempre ocas,
repetindo o mesmo mantra
num muxoxo inaudível:
O preço, o desconto, o clima, a novela...
Bancas repletas de desejos rotos,
que o sol marcou graciosamente,
em tons de amarelo ouro, desbotando.
A conversa ensaiada, reza o mesmo:
O desgoverno, o furto, a propina...
Essas moças que regem esse mundo oco,
estão lá para fazer esquecer o desgosto,
sabendo que cada passante vai oco,
buscando o motivo de dar o próximo passo-passo,
pisadas ocas ecoam nas moças ocas
em seu mundo oco.
-Chegar freguês! É promoção!
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