Não há poesia na vida
nem na morte que olha
pela porta entreaberta.
Não há poesia na libélula louca,
nem no menino que corre.
Não há poesia naquele mourão,
nem no bem-te-vi inconstante
que mercadeja a Embaúba doce.
Ela é um pangaré hesitante,
sempre mambembe, moura,
de ideias oscas como a vaca.
Carrega nua pela estradinha,
suas trempes etéreas, devaneios,
desvarios inúteis sobre paus,
penas e a serralha de flor branca.
Quem se ocupa com suas lérias
perde tempo e nada ajunta.
É ópio e fumega constante
sempre adernando, sempre tosca.
Versa ora sobre um rio ancho,
ou aquele rego d'água tiubeante,
que tirilinta um buriburi infinito.
Não constrói nenhuma valia,
mas sabe de coisas do cerrado,
do fogo que correu bicho,
da florzinha que despega voando
pelo desalinho que o vento teceu,
nas pequenas touceiras de capim,
na tarde oscilante. Somenos!
Como quando a formiga assunta o rumo,
ou quando um João-de-barro dá seu pulo-passo.
Nome de paus, de gentes, de bardas,
histórias que coisam a noite quando coisa.
Na poesia a realidade se alonga na brenha
e da lugar a nadas, a eitos vazios, a grotões.
A poesia é uma loca de antanhos.
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