segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

Colchete

Meu canto não é lira, é toco.

Canto o torto, o fosco, o limbo

o roto. Não tenho tenências valiosas.

Sei que vou passar como um borrão

em dia de vento errado.

Tenho fala de bicho-gente e animal.

Divurgo coisas inúteis

de serventia pouca:

Cor de cavalo, nome de pau,

piado de aves e palavrório.

...

Fazenda Pedra Bonita ensina,

mas tem porteiras como o diacho.

Curva, morrote, pau torto e cipó.

Aquele riozote que passa lentoso

leva-leva até o Brilhante que é pardo.

O Arlete é homem simprão

mas só na farda, no por dentro é bardoso.

Vive seu viver vivendo sempre, sempre…

Desdorme por volta das três e meia

enquanto o galo ainda sonha penoso.

Chimarreia e sai pro eito no desnoite.

Anta que amansou com manga

vem bandiar o terreiro,

cachorrada nem tusga.


Dia é dia já, e o sol vai no eito longe.

Visita que sou, assunto a prosa:

Onça, enchente, gente que morreu,

causo de chifre, facada e tiro que deram,

mode amor, desdita e dívida.

Tudo acontece na vila, que é antiga como pedra.

Não tem falta de nada, tudo serve.

Cachorro tem de turma, diverso na cor e feiura.

Fartura de muito compadre e colchete,

colchete como o diacho...

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