Meu canto não é lira, é toco.
Canto o torto, o fosco, o limbo
o roto. Não tenho tenências valiosas.
Sei que vou passar como um borrão
em dia de vento errado.
Tenho fala de bicho-gente e animal.
Divurgo coisas inúteis
de serventia pouca:
Cor de cavalo, nome de pau,
piado de aves e palavrório.
...
Fazenda Pedra Bonita ensina,
mas tem porteiras como o diacho.
Curva, morrote, pau torto e cipó.
Aquele riozote que passa lentoso
leva-leva até o Brilhante que é pardo.
O Arlete é homem simprão
mas só na farda, no por dentro é bardoso.
Vive seu viver vivendo sempre, sempre…
Desdorme por volta das três e meia
enquanto o galo ainda sonha penoso.
Chimarreia e sai pro eito no desnoite.
Anta que amansou com manga
vem bandiar o terreiro,
cachorrada nem tusga.
…
Dia é dia já, e o sol vai no eito longe.
Visita que sou, assunto a prosa:
Onça, enchente, gente que morreu,
causo de chifre, facada e tiro que deram,
mode amor, desdita e dívida.
Tudo acontece na vila, que é antiga como pedra.
Não tem falta de nada, tudo serve.
Cachorro tem de turma, diverso na cor e feiura.
Fartura de muito compadre e colchete,
colchete como o diacho...
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