terça-feira, 28 de agosto de 2012

Temíxtocles

Bigodinho fino por riba dos beiços,
cabelo besuntado, partido no meio,
aquela calça de tergal e chinelas,
um estalar de língua sestroso.
-Seu bigode! Tem pão?
Chap, chap, chap, é a chinela quem responde
entre dentes e um coçar nos quartos:
-Tem fi dum a égua!
Não gosta da alcunha.
O armário de pães é todo de vidro,
sobe logo aquele cheiro antigo,
cheiro de menino, cheiro de bolicho.
Raimundo Salustiano nome de pia,
mas por adoção literária “Temíxtocles”.
Homem feito em cordéis e novelas,
com idéias da capital, no meio dos bugres.
Maria-mole, suspiro, canudinho,
fumo de rolo, corda, piaçava, seu patrimônio.
Jornal é pra embrulho e desinformação.
Amores se os tinha, embaixo da tarimba
ninguém assomava, mas era notícia.
Fazer medo era seu ofício de poeta,
meninos amansava era com sete belo.
Seu segredo: o cheiro de bacurau choco,
cultivado em banhos dominicais,
com muito sebo no cabelo e leite de rosas.
Elogio era acertar a pronúncia:
-Temíxtocles!
Ele amolengava, e chiava um risinho baiano.
(tinha artéria filosofal dentro da cabaça)
Ma isso era no escondido, nos guardados.
Lá por fora era aquele tufo de cabelo fora da camisa,
um mascadinho de fumo e a inhaca.
No mais, piçarra de solidão e desafeto.
Acho que por medo de rebuliço de saia.
Atiçava umas piscadelas, mas desdizia:
-Cisco no olho ara moleque! É o cipó!
E era o magote correndo e gritando:
-Seu bigode, Seu bigode catinga de bode!




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