sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Aposentadoria

O mês de agosto findou no bico da juriti
aninhada na sibipiruna desfolhando.
Ela segue atenta um camisão, calça-chinelo
que caminham no corpo de um velho embaixo.
A dois metros atrás, vai chapinando emborcada,
as chinelas da mulher a tiracolo da bolsa.
Olham pro chão, cuidam carros estúpidos.
Eles não se importam mais com bem-te-vis
nem ouvem o grito amarelo do ipê anônimo.
Em sua memória, imagens de TV e a pensão
se amontoam no chiar das folhas da Sete-copas.
O chapéu cobre valentias e conquistas esmaecidas,
gavadas em memórias bolorentas,
sempre desconfiadas pelas chinelas conjugais.
É indês o ovo da juriti choca.
A Grevilha jarretada brotará em setembro
e o pica-pau veio conferir a morte, não deu coró.
-É esperar pra ver o mês se o "Gonverno" paga certo!
-Ir à Caixa requer prano e cárculo bão!
-Uma sacola pra enrolar os documento,
olho nos malandra, um papel da senha
e algum cristão pra ler o imbróglio!
A paineira já recobrou ânimo
Já vem chamando setembro e chuva mole.
Deu cria nas flores e beija-flor azul metálico.
vem trazendo primavera nas asinhas azáfamas.
Com pressa, com pressa, ele também não vê
a juriti enganada ajeitando o ovo goro.

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