segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Arreios

O tordilho despreza toda poesia!
Ele balança a cauda longa enquanto rumina
um tanto de sapiência equina.
Vez em quando, olha-me pensante
e não lhe ocorrem rimas ou profundezas.
Lhe interessam: A silagem e a vastidão.
O desejo de grandezas me diminui imensamente
cá do outro lado da cerca baixa.
O que nos separa não é o valado.
Talvez a altivez indomitável,
a simplicitude com que aceita sua sina.
Num arroio esverdeado cochicha um escorrido.
Trata de assuntos d'algas e limbo, de lambaris e socós.
Pra'lém da matinha se esconde o sol preguiçoso,
enquanto o hálito da noite vem refrescoso.
O bardoso está livre de arreios e forçados,
Todo o peso do dia está em meus ombros.
Os ombros de dentro, onde o jugo é mais pesado.
O baio se esfrega num jatobá parido.
Um cheiro de capim me alivia a memória,
lembro-me de coisas inúteis bem guardadas
a sete chaves cortantes em gavetas emperradas.
É preciso seguir: O chimarão esfria na varanda.
Como fazer pra esquecer os arreios?
As pedras e locas das sendas d’alma?
É preciso correr um trecho d’água
Dormir em estepes novas e floridas
envergadas pela boca fria do mês de agosto.

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