segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Pedro Gomes

A lesma caramujou no oco da noite
deixando uma trilha de lerdeza e silencio.
Seu oficio é lesmar e gosmar o chão.
Paciente como um monge, não urge:
Seu tempo é líquido, flui e reflui molemente.
Soterrado pelo frio, escuto sua trilha brilhante;
Para música não há palavras explicatorias.
A música da lesma é oca, tem voz de limbo.
Não sou capaz de afinar o lesmal,
nem o som que faz o pensamento.
Aliás penso tanto que dói o siso.
Invejo o vazio da orelha de pau quando chove.
Tenho tenência de musgo em pau podre,
escuto com o olho e apreceio com orelha.
Tudo desinvertido, descombino a toleima.
Tenho lembranças mornas de arreios,
choupana de palha e mate no pantanal.
Meu caixeiro era pai lá, troçaiama de casa
Rádio, chita e fumo de corda era espólio.
Escrevo por modo de esvaziamento,
tem um menino catucando no eito meu.
Lá tem paus, tabuleiro e descompassos.
Um solilóquio de velhuras oblíquas
onde a lesma ensina brejos e cerrado.
Comi uma serra quando não tinha relógio
e bebi um corguinho lá em Pedro Gomes,
a cidade que minha'vó inventou.
Era feita de beijus com manteiga.
Aquilo se agarrou em mim e poetei.
Nunca mais atinei para o regular,
Agora tenho ânsias de descoisas.

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