domingo, 19 de julho de 2015

Outro agosto

Agosto abriu sua boca fria e me engoliu;
Sourveu-me fastioso, lerdo e sem volúpia.
Pude ver por dentro seus dentes inquietos
moendo os restolhos já ressequidos da mindinha.
Um rosilho, roncoio de dois anos troteia esparçoso,
arremete bufando contra o baio e arrefece.
Nas copas, um silvo ventoso anuncia já a prenhês do mundo,
é tempo de as árvores empoemarem folhas.
Seus estames se soltam sem ruído e flanam até o chão.
Nas cidades, calçadas sórdidas ficam coloridas
e traduzem uma infinidade de matizes farfalhantes.
Coleciono agostos desde menino lá em Pedro Gomes.
Tenho uma caixa cheia de ventos e palavras inúteis:
Cisma, toleima e im'antes são destas que ajuntei.
Tenho ventos amarecelidos. Uso para desassombro.
Achei no monturo lá perdido esta: Rufião.
O Vardi que me amostrou e ensinou o sentido:
-Desbaguado que sobe na vaca mode marcar o cio!
Dai é só apartar e largar o brasino no pasto!
-Cê tem as letra guri, mas eu tenho garrão! Anuviou.
Tem também lida: desdita e tresantotem. Só por mode percisão.
-O Cuiudo não enjeita briga nem montaria! Ensina.
Eu, ventoso, olho pra dentro de um mourão corrompido,
que abrigou um vespão de riscas brancas nas patas.
A fala do Vardi vai afundando no buxo de agosto,
enquanto tento contar as cores que o bambu faz quando estala.
Sei a voz de todo pau quando geme empurrado pelo vento.
Aprendi que o rufião pega teima. -Causo da mardade!
-Presta não que morde a tropa e fica pulador!
Ensinou que o tordilho "a gente não divurga",
na boca da noite. -Tem que escuitar bem!
Tudo ponho no debaixo, por serventia que têm
todas estas coisas, são de grande utilidade e valor.





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