terça-feira, 12 de abril de 2011

A cerca

De onde estou, posso ver o horizonte.
Mesmo quando abaixo a cabeça pra comer,
Ainda consigo ver depois da cerca, a serra...
Bandos de maritacas voam baixo grasnando
passam sobre meu dorso, enquanto pasto.
Descendo a colina tem um riacho,
águas claras cheias de lambaris miúdos.
A água rasa bate no meio da canela.
Quando atravesso, a areia branca escorre,
por entre os meus cascos.
Sinto um preenchimento inexplicável.
A solidão aqui é boa, só sinto falta de uma fêmea.
Mas a cerca na outra margem me detém,
ela está ali, quase invisível, mas está.
Posso com um pouco de esforço, rompe-la.
Mas o medo da novidade me impede.
Gosto de estar seguro, do lado de cá.
Meu dono, vez em quando aparece,
me atrela à carroça, e puxo coisas dele.
Não sei pra que servem, só puxo.
Depois ele me solta na amplidão cercada.
A cerca é uma espécie de referencia de mundo pra mim.
Sem ela, acho que ficaria muito ansioso.
Admiro os outros bichos que não vivem cercados.
Mas penso que não é pra todos.
Sou apenas um animal de carga, tenho dono.
Me sinto importante e até protegido.
A liberdade ainda me assusta muito.
Acho que só quero pastar sossegado,
beber água no riacho, correr nas campinas.
Nessa vida de asno a única coisa ruim,
acho que é dormir em pé...
De resto, gosto dessa pasmaceira...
Acho que vou dar uma rolada na terra agora...

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