quarta-feira, 14 de maio de 2014

O caso do osso

Era um osso do espinhaço da vaca;
Taludo, o tutano adesando dentro do cano,
como de menino que nunca boliu em moça.
Versava por umas onze da manhã rebrilhante
e o caldeirãozinho de ferro tungia na quentura,
cá acolá brandiam umas bagas de bolha quente.
Venício butucado no bicho mode não gorpá,
carculava já o derriçar da farinha no caldo.
A visita se aprochegou, assuntou o guisado na venta
e malandrou uma prosa que ia no rumo da boia.
O paneleiro porfiou uma desconfiançazinha bamba
que ia do osso na cara do viajante que se achegara.
-Carcula que esse ai vai lamber beiço às custas!
Trespensou o Venício embaixo do chapeluco.
Conversa vai, vem humhum hum, -Ê diacho!
O homem empacou, sentou praça na cozinha
e o caldo afina e refina, e fogo no cú do caldeirão.
Subiram serra, venderam gado, tombaram jipe,
deitaram chifre em Formoso e o osso galopando...
Num desaviso, a visita peneirou uma fala mofina:
-Ô cumpade essa boia ta cheirando no diabo!
-Eita mas tá mesmo compade, esqueci do guisado!
-Tô sem fome! Embustou o visitante mode convite.
-É pros cachorro! Rematou o compadre já aguado.
Sucedeu um" te mais vorta sempre quiédecasa"
eo cachorro na soleira com as jabuticaba
saindo da caveira rumo do bem-bão garantido a finado.

Um comentário:

  1. O cabra descobriu o buraco onde se amonta sem arreio nas palavras. Eita poema medonho. Bom demais, primão!

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