quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Farinhada.

Quero escrever um poema na primeira pessoa,
como quem faz farinha.
Colher as raízes sujas de terra, enlamear-me.
Ser tosco e nutritivo como a maniva.
Apodrecer no perau, e nascer enramado.
Quero pubar devagar, e verter verbos
Mudar a serventia das palavras, estragá-las.
Espremê-las até minar caui, entorpecer.
Quero encontrar o inverso do sentido,
sentir o etéreo, sorver o súbito
como quem bebe água de cacimba na mata.
Quero domesticar lobisomens verbais
escarafunchar o sórdido, velar a nobreza.
Quero andar de costas e surtar poemas.
Quero não ser para existir de fato.
Lições de polvilho são:
A brancura; a fartura e o adensar-se.
É preciso ser puro como a fécula,
fecundo e musical como uma cabaça.
Esbofetear os adjetivos
até que eles sejam como beijus quentes,
com serventia para os dentes e língua.
Maniva, mandioca, raiz de pobre,
alimenta-me com tua simplicidade,
com tua desfaçatez calculada.
Entranhe-me a alma anoréxica
e me dê a beber de tua seiva poética.
Nenhuma poesia é maior que um pé de macaxeira.




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