sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Monólogo.

Porque você olha pro meu horror?
já tenho meus verdugos particulares
pagos a soldo de alheamento do mundo
de estranhezas, incertezas, tropeços.
Por favor amigo estranho, olhe pro teu,
segure minha mão se quiser
mas não olhe pro meu horror.
Minhas vicissitudes são tantas e contumazes
que já se empoleiram sobre meus muitos dias
como ramagens secas, como trempes esquecidas.
Se há algum conforto, se há alívio?
Que posso dizer hoje...
Apodrecemos.
Mas há sempre certa utilidade em fenecer
se não, alguma beleza no pejo.
Feito um tronco velho na mata úmida,
onde tamanduás vermelhos vêem escarafunchar
seu alimento.
Onde lindos corós de cabeça amarela
Vicejam sua gordura branca e rica.
É bem certo que o dono do mundo
o fez com todos seus matizes e sons únicos
para regê-los para si mesmo.
Sim, para quem escreve a sinfonia
Há grandeza no som do sofrimento,
há beleza no ostinato da dor, do riso,
do gozo, do parto, do coito,
do corpo em seu ultimo estertor.
Há extenuante beleza na decrepitude,
na criança que ensaia sua primeira queda.
Há angustiante beleza em tudo...

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