sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Um balde azul

Um enorme caminhão amarelo
serpenteia por entre ingazeiros e imbaúbas indiferentes,
enquanto um vento menino derruba folhas no chão de agosto,
folhas amareladas desferem tons de verde e marrom,
preparando a cama para vermes e minhocas obtusas,
que no fim do dia veem arrumar a terra úmida.
Sinto uma saudade aguda e sem lugar de repouso.
Ela cai sobre a mesa e me toma feito ópio.
Buritis e palmeiras astutas vicejam sua esnobe figura.
Uma enorme figueira solitária ri do meu dilema.
Em seu tronco de matrona, cresce uma era teimosa.
Mas ela não se importa e brinca com o vento teimoso.
Sobre minha mesa, quatro gotas de clonazepan
cantam uma canção em semínimas pontuadas.
Estou só, ela está longe imersa em números e tabelas.
Me alegra saber que o Homem de lata e o espantalho,
Estão com ela rindo e contando historias de postergar.
É sábado, e os tons de marrom e verde do serrado
me fazem pensar nos meus filhos de um pai que não sou.
Eu os ouço gritando, rindo e correndo entre as árvores.
Olham pra minha capa vermelha e meu escudo dourado
e se sentem seguros. Estou nu e assustado,
mas finjo que posso vencer o enorme dragão.
Em seus três chifres posso ver escrito:
Cansaço, lassidão e esquecimento.
Uma mulher aparece com uma vassoura
e desarranja as folhas em pequenos montículos,
depois as lança num enorme balde azul petróleo e tampa...
Um sabiá amarelo me olha como se me visse,
depois vai embora e não se lembra mais de mim.
Sigo, como quem sabe onde vai...

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