sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Uma cama de delícias

Não posso parir palavras para explicar o gozo
Da luz do sol de agosto num fim de tarde
Incidindo sobre as melenas de capim
amarelo-palha, pincelado por tons esverdeados
na estrada que me leva a Nova Andradina.
Ipês amarelos, despido de suas folhas espessas,
são como um Matisse dançando flores brutais.
Envolto em uma casca sóbria como um terno
ergue-se anunciando a alegria do mês de agosto
em meio ao sono do serrado inflamável.
Tanta cor, tanta vida em meio a réstias de queimada,
tanta promessa no fim do caminho.
Cidade que me despe de realidade, Nova,
velha Andradina, com suas casinhas antigas
gentes nas portas olhando o tempo virar a esquina,
a pretexto de tereré, urdem as últimas velhas novas.
Casarios, casebres, carrões, carroças, consentem
em habitar a gente nova e a velha gente de Nova.
Terra de suspirar e beber o cheiro de chuva do cerrado.
Na estradinha estreita pra chegar, espreitam bois e buritis de longe.
Historias de onças e sucuris de almanaque, inda rondam
alagados e riachos guardados por caraguatás teimosos.
Cortam-me o peito as ruas e vielas limpas de Nova
Lá as gentes dizem “a Nova”, como se a reconstruíssem
todas as manhas sob um sol que é só seu.
Ando asfixiado e faminto do ar de Nova,
que Incrustrada no cerrado me convida
feito a mulher que preparou com linho,
vinhos e flores, uma cama de delícias.

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